A face da águia americana


A nova cara latina e religiosa dos Estados Unidos


Por Fernando Augusto Bento

Quem nunca almejou conhecer os EUA? Talvez seja o sonho de grande parte dos brasileiros e também do resto do mundo. Contudo, depois do atentado de 11 de setembro de 2001, a situação mudou. Neste retrato da superpotência mundial, veremos as religiões que mais crescem no país e como o povo norte-americano está vivendo depois da catástrofe ocorrida nas torres gêmeas, em Nova York. Tudo isso sem deixar de mostrar a nova “cara” da sociedade americana, que se torna cada vez mais hispânica.

A maioria da população dos Estados Unidos é formada por imigrantes europeus. Mas o país, hoje, possui um grande porcentual de imigrantes mexicanos e latinos. São justamente essas pessoas que têm mudado o quadro social da comunidade norte-americana.
Atualmente, o país tem a maior diversidade étnica da história: 70% da população são descendentes de ingleses e irlandeses, que o colonizaram. Logo depois, os porto-riquenhos e os cubanos. 12% do total da população é composta de negros descendentes de escravos. Esse número cresce a cada ano, com a chegada de imigrantes do Caribe, Haiti, Somália e América Latina. Os mestiços hispânicos também compõem grande parte da população. No lado Oeste do país, principalmente no Havaí, existe uma grande comunidade de asiáticos. A maioria deles é de filipinos, coreanos, sul-asiáticos, chineses, japoneses, vietnamitas, cambojanos e laosianos.

A devoção americana
A mistura tão grande de etnias dá o tom da religiosidade americana. Calcula-se que a maioria das seitas que surgem no mundo se origina no país. Lá, surgiram as religiões pseudocristãs, como as testemunhas-de-jeová, os mórmons e os adventistas do sétimo dia. Alguns dos atores e atrizes mais expressivos do cinema norte-americano são adeptos da Cientologia, cuja doutrina nega a criação de Jesus Cristo e sua ressurreição, além de não crer que Deus é um ser supremo. São essas as seitas que influenciam o país, embora existam outros movimentos, comunidades e religiões que regem, de modo direto, o capitalismo. É o caso, por exemplo, da comunidade judaica, dona de grandes empresas milionárias, “que, de certa forma, influencia as decisões na política internacional”. Pelo que se sabe, os EUA detêm a maior comunidade judaica do mundo, detentora de bilhões de dólares. De acordo com o coronel do Exército e ex-oficial do Estado-Maior, Geraldo Lesbat Cavagnari, “a segurança de Israel é do interesse americano. Israel não existiria sem a proteção dos Estados Unidos, a base da economia está nas mãos dos judeus americanos”.
O islamismo é uma das religiões que mais crescem nos Estados Unidos! No decorrer da década de 90, muitos turcos, árabes e ex–soviéticos imigraram para o país. Isto fortaleceu o islã na América. Hoje, a maioria da comunidade muçulmana americana é discriminada, fato decorrente do caos de 11 de setembro de 2001. Entretanto, segundo dados do Departamento de Estado dos EUA, até o ano 2010, a população muçulmana do país deverá superar a população de judeus, fazendo que o islamismo seja a segunda maior fé, depois do cristianismo. Atualmente, existem cerca de seis milhões de americanos muçulmanos. Há, aproximadamente, duas mil mesquitas no país. Da maioria dos americanos muçulmanos, 77,6% são imigrantes e 22,4% nasceram nos EUA. Estatísticas atuais dão conta de que o islamismo nos EUA cresce 2% ao ano.
O escritor e pesquisador Silas Tostes diz que o crescimento do islamismo nos Estados Unidos ocorre, principalmente, entre os negros. Ainda segundo Tostes, existem milhares de negros muçulmanos entre os cidadãos norte-americanos. É o caso, por exemplo, de Mohammad Ali (Casius Clay and Malcon X).
Nas últimas décadas, as religiões chinesas, ligadas às artes marciais, vêm crescendo sobremaneira. O fenômeno se deve, principalmente, por causa dos incentivos dos filmes de Hollywood. Segundo dados da Intercessão Mundial de 2003, o crescimento anual gira em torno de 5,4%, aproximadamente. São cerca de 140.000 adeptos. Sem contabilizar a mistura que geralmente acontece nas seitas vinculada às religiões de origem chinesa.
O mesmo ocorre com o budismo. Ou seja, pega “carona” no cinema e consegue se propagar. Os últimos filmes da trilogia Matrix, ainda que de forma subliminar, fazem uma apologia ao budismo. Com cerca de 2,6 milhões de adeptos nos Estados Unidos, os budistas crescem 3,2 % ao ano, aproximadamente. Utilizando a ideologia da “paz” pregada por eles, o crescimento é silencioso, mas relevante, pois as empresas americanas utilizam técnicas de meditação do budismo para combater o estresse de seus funcionários.
O hinduísmo é uma das religiões mais pluralistas do mundo e, apesar de sua incompatibilidade para com as crenças cristãs, tem exercido grande influência entre os norte-americanos nas últimas décadas. Vai da ioga à meditação transcendental, divulgada pelos Beatles. Hoje, essa miscelânea no hinduísmo é constante entre os americanos. Calcula-se que o hinduísmo cresce cerca de 2,5 % ao ano no país.
Após a Segunda Guerra Mundial, houve um grande crescimento de evangélicos nos EUA. Há quem diga que esse crescimento foi fruto do trabalho de Billy Graham, considerado o maior evangelista do século 20. Segundo opinião da Intercessão Mundial, Billy Graham é o evangelista que mais pregou e testemunhou para líderes, mais do que qualquer outra pessoa. Marcou presença nos governos George Bush, Bill Clinton e, recentemente, George W. Bush, depois da tragédia do dia 11 de setembro de 2001. Hoje, a Igreja americana consegue promover um crescimento sustentável, graças à renovação causada pela música evangélica que tem atraído milhares de jovens a Cristo.
Nos últimos dez anos, os pentecostais cresceram cerca de 28%. O reavivamento tem acontecido em Brownsville, Pensacola. Segundo estatísticas da Intercesão Mundial, de 2003, a Flórida vive uns dos maiores aviamentos dos últimos anos. Atualmente, o país concentra centenas de agências missionárias que realizam grandes trabalhos evangelísticos em volta do mundo. Entretanto, as igrejas evangélicas americanas estão preocupadas com a juventude, visto que a promiscuidade, a pornografia e as drogas são retratadas abertamente nos filmes. Essa preocupação atinge também toda a sociedade.
A música dos evangélicos dos Estados Unidos tem arrancado muitos jovens da escuridão das trevas. Mas, infelizmente, a herança espiritual dos americanos tem sido corrompida, principalmente pelos adeptos da Nova Era e pelos homossexuais. Eles se aproveitam da liberdade religiosa e do grande poderio dos meios de comunicação para achincalhar os cristãos.
Há um grande abandono dos princípios cristãos e religiosos no país. O jornal USA Today promoveu uma pesquisa em quatorze estados americanos. E, segundo o jornal, houve um crescimento, ou uma taxa sólida, de casamentos civis de mais de 30% em 2001. O periódico conclui que este fato acontece porque é crescente o número de pessoas que aceitam a união homossexual nos Estados Unidos.

Vida após a catástrofe
Após o atentado contra os Estados Unidos, houve uma grande mudança social entre os americanos. O cotidiano não mudou apenas a vida econômica da nação, fixou também novos padrões culturais. O abalo na vida dos americanos trouxe uma reflexão da vida como um todo para o país. Pesquisas publicadas por grandes jornais americanos, como USA Today e New York Times, concluíram que “houve um grande retorno de pessoas às igrejas”. O fato pôde ser observado porque a maioria dos entrevistados acreditava que aquela catástrofe era um sinal para o fim do mundo.
As famílias começaram a observar novos valores, como, por exemplo, o caso da educação escolar nos lares. Hoje, milhares de crianças não vão à escola, estudam em casa com seus pais. Muitas mães, por conta disso, deixaram seus serviços para se dedicar à família. Só em Nova York existem duas mil crianças estudando em casa. Os motivos são diversos: violência, medo do terrorismo ou, simplesmente, para dar maior atenção aos filhos. As empresas começaram a gastar milhões com segurança, após o dia 11 de setembro de 2001. Hoje, os norte-americanos vêem a segurança como um fator preponderante.
O império vem-se fechando. Pela primeira vez na história, os americanos enxergam a segurança doméstica acima das conquistas sociais. Isso é muito diferente da vida pregada nos anos 70 e 80: quando os valores de consumo e de ascensão social estavam acima de tudo e mobilizavam os americano a viver um capitalismo selvagem, de consumismo a qualquer custo. Segundo alguns importantes sociólogos, “o abalo social causado por uma catástrofe pode trazer uma reflexão de como a sociedade moderna pode viver melhor”. E foi isto que aconteceu com os americanos. Estão dando valores a coisas mais agradáveis, como a família e o bem-estar do próximo. Era esse o sonho do histórico presidente americano Abraham Lincoln, que dizia: “Não adianta formarmos um império para nossos filhos. É necessário estabelecermos uma sociedade boa de se viver”.

De cara nova
A cultura pop americana de cinema, quadrinhos e música mudou de cara. O último Censo divulgado nos Estados Unidos mostrou algo já perceptível pelos americanos: a comunidade hispânica deixou de ser um pequeno grupo para se tornar parte inseparável da economia e cultura e da composição étnica do país. Nos estados próximos à fronteira do México isto é evidente. A maioria dos nascidos lá é de família hispânica. A sociedade de imigrantes hispânicos, que chegaram nos últimos anos, alcançou a marca de 39 milhões de pessoas, superando até mesmo os negros e desenvolvendo o maior movimento étnico dos Estados Unidos, depois dos brancos.
Em cidades como Nova York, por exemplo, o número de hispânicos triplicou nos últimos dez anos. Os imigrantes mexicanos representam 32% da população do Texas, estado do presidente George W. Bush. Além de numerosa, a sociedade latina cresce em ritmo mais rápido. Na soma final, são 13% da população americana. Segundo pesquisas do governo, os latinos possuem grandes personalidades, com alto poder de sedução sobre os consumidores de todos os grupos e de todas as classes econômicas.
Empresas de Relações Públicas na Califórnia, especializadas em falar com latinos, calculam que o poder econômico deles chegue à cifra de 700 bilhões de dólares neste ano. “Os americanos de origem hispânica, mesmos os nascidos nos Estados Unidos, têm como particularidade manter o orgulho de sua origem”, diz Aida Levitán, a presidente da associação de publicidade hispânica. Levitán diz mais: “Os latinos são comprovadamente um grupo muito fiel às marcas, ao contrário de outros americanos, que não são fiéis aos seus produtos e estão sempre trocando de marca”.
Aida Levitán apóia a idéia de que, para se alcançar sucesso junto aos latinos, é necessário fazer uma divisão de águas entre os grupos. “Um mexicano no Texas é muito diferente do porto-riquenho ou dominicano de Nova York, e diferente do cubano de Miami”, ressalta ela. Entretanto, é bom deixar claro que os hispânicos possuem muitas semelhanças, gostam de novelas, se importam com a imagem e ainda dão grande valor à família. A grande parte dos hispânicos é casada e, geralmente, segue o catolicismo, sendo que a taxa de separação entre os hispânicos é bem menor do que a dos brancos americanos. “A melhor maneira de alcançar os latinos nos Estados Unidos é a língua espanhola”, diz ainda, que elegeu o campeão de boxe, Oscar de la Hoya, 30 anos, natural de Los Angeles, para fazer comercial de sucos ao público infantil.
Outro aspecto importante da cultura latina nos Estados Unidos é seu apelo mundial. O show de entrega do Grammy latino foi televisionado para 100 países. Só nos Estados Unidos ultrapassou cinco milhões, um aumento coerente, ultrapassando a marca de um milhão em relação a 2002. A socióloga americana Nicole Marwell, Ph.D. em estudos latinos, do Centro de Estudos de Etnia e Raça Latina da Universidade de Colúmbia, expõem que o maior fator de crescimento dos latinos nos Estados Unidos é ainda a imigração, engrossando o contingente de pobres no país. Quando se fala no império e na supremacia cultural, econômica e militar dos Estados Unidos é bom lembrar que somente 13% da população americana é de famílias brancas.

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